Ao longo do tempo em que temos vindo a desenvolver esta rubrica no blogue, tivemos a oportunidade de mergulhar em imensa música. Música esta, maioritariamente boa - de bandas mais ou menos conhecidas, algumas fenomenais e outras talvez um pouco menos excitantes. Mas, de qualquer forma, estivemos persistentemente em contacto com música de qualidade.
Todavia, não são todas aquelas músicas que nos deixam completamente abesbílicos, não só pela sua inovação, como pela exuberante formosidade da sua composição, que nos estimulam tamanho entusiasmo como talvez nenhuma outra coisa que tenhamos recentemente escutado. Os Crown Solace, com o seu mais recente tema, vêm, até como o próprio nome sugere, fazer-se coroar pela sua magnânima composição como um dos nomes mais interessantes e fascinantes do metal mais contemporâneo.
Esta cantiga, Dangerous Eyes, é imediatamente reconhecível e demarcada pela voz de Pete Rawcliffe, o vocalista da banda. Pete executa uns belíssimos vocais sopranos, angelicais, mas potentes, que, por si só, já nos cativam imensamente. É, evidentemente, muito mais comum escutarmos vocais desse género por parte de mulheres, de modo que obter uma experiência auditiva análoga, com um cantor masculino, é realmente incrível. E como se não bastasse a sua clareza, finura e graciosidade, Pete demonstra também uma excelente capacidade de controlo da sua voz, modelando o seu cantar em consonância com o desdobrar do resto da música. É um desempenho verdadeiramente impressionante e que, por si só, já é um marco monumental nesta canção. A sua voz é dotada de um opulento carisma, apaixonante, que nos deixa totalmente maravilhados.
Os vocais operáticos são contrastados com os guturais de Callum Hutchinson, também baixista dos Crown Solace. Juntos, geram um cenário sonoro genuinamente intrigante. Em conivência, também, com o plano de fundo do vídeo, com breves filmagens de chamas que consomem uma floresta, os dois estilos vocais constituem, conjuntamente, como que uma narração que se desenvolve na mente do ouvinte. Parece ser um conflito sentimental interno, que se faz manifestar por dois estilos vocais sonoramente antagónicos. Faz-nos também pensar em algo como que um embate entre forças clementes e malévolas, quase que numa alusão divinizada, numa luta entre Deus e o diabo. De certo que cada um de nós poderia imaginar todo um novo conjunto de cenários.
E paralelamente a esta magnífica apresentação vocal, desenvolve-se a instrumentação metálica, rígida e e consistente, que confere uma nova força aos vocais e uma ambiência mais intensa em torno da música, intensidade esta já marcadamente soldada com o sentimento efervescente que os vocais projetam.
Poderíamos ficar o resto da noite a tecer todos os elogios que quiséssemos e mesmo assim, nenhumas palavras seriam suficientes para qualificar acuradamente esta grandiosa obra musical. Resta-nos dizer que Dangerous Eyes foi, definitivamente, uma das melhores experiências auditivas que já tivemos, no decorrer da rubrica dos lançamentos da semana, e que os Crown Solace são merecedores de toda e qualquer parabenização pelo seu esforço, criatividade e engenhosidade. Mesmo se a banda terminasse as atividades amanhã, teriam já estabelecido um legado incomparável e admirável no séquito do metal; mas como, felizmente, parece que eles têm tudo encaminhado para continuar, veremos que surpresa agradável nos trarão no futuro.
Ficha técnica
Data de lançamento: 4 de maio de 2023
Editora discográfica: Independente
Créditos:
Pete Rawcliffe (vocalista e compositor)
Valentyn Tkach (guitarrista e compositor)
Callum Hutchinson (baixista, vocalista gutural e compositor)
Menzies Johnson (baterista)
Federico Palmucci (orquestrações)
Frank Pitters (mixagem e masterização)
Sem comentários:
Enviar um comentário