O mais recente lançamento desta magnífica banda brasileira, The Queen of the Seas, é dotado de uma soberba prodigiosidade. A música é caracterizada pela genial simbiose entre música tradicional brasileira, de géneros como axé e samba, com a típica sonoridade melancólica e bonançosa de metal gótico dos Fenrir's Scar. Os elementos de música brasileira são omnipresentes na cantiga e acompanham-na constantemente, constituindo uma melodia tranquila e folgada. Características estas que são potenciadas com a voz meiga e serena de Desireé, que contrasta, em momentos distintos, com o vocal de André, de registo mais grave e de uma natureza mais barítona e paternal.
Ambos são excelentes vocalistas, que dotam a cantiga de uma personalidade musical e artística própria - enquanto que Desireé faz relevar o lado mais acessível e melodioso da música, de uma maneira que vicia e fica no ouvido, André canta-nos alguns excertos em português, carregando um senso de familiaridade auditiva, a quem também é parte da comunidade lusófona mundial, e de proximidade ao tema da cantiga.
The Queen of the Seas é uma solene homenagem a Iemanjá, divindade de origem africana, cujo culto chegara às Américas em consequência da ação colonizadora europeia. Cultuada como a rainha dos mares, Iemanjá é uma figura divina de destaque no panteão religioso e folclórico brasileiro e razão de diversas celebrações de considerável importância cultural que ocorrem no Brasil. Na ilustração de capa, temos uma rica representação artística da Iemanjá, denotada pela sua beleza e serenidade, que se coaduna lindamente com a cantiga. Também certas partes da instrumentação e dos efeitos sonoros usados fazem lembrar o relaxante som da rebentação das ondas do mar e invoca uma agradável ambiência tropical, também ela evidente na ilustração.
Assim, os Fenrir's Scar fazem ressoar o seu génio criativo numa afável cantiga que casa primorosamente diferentes estilos de música, numa excelente composição, muito bem conseguida. Evidencia, também, um forte espírito de iniciativa, no que toca à assunção de riscos, numa exímia composição musical incrivelmente executada. que será, sem dúvida, um dos nossos temas de eleição de agora em diante.
Ficha técnica
Data de lançamento: 17 de fevereiro de 2023
Editora discográfica: Independente
Créditos:
Desireé Rezende (vocalista, letrista e ilustração da capa)
André Baida (vocalista, guitarrista, baixista, compositor e letrista)
Fabiano Negri (guitarrista [acústica e solo], pianista, compositor, produção, mixagem e masterização)
Icaro Ravelo (baterista)
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