domingo, 26 de fevereiro de 2023

Crítica #4- Whispers in Crimson - Suicide in B Minor

Whispers in Crimson é uma banda rodeada de mistérios. Não existem quaisquer notícias do seu paradeiro e estão totalmente ausentes das redes sociais, tendo apenas lançado um álbum, em 2014, e nada mais. Mas apesar de toda esta nebulosidade em torno da sua identidade, esta banda iraniana deixou uma grande marca no mundo do metal, com o seu único disco, pelo menos, até à data, Suicide in B Minor.

Trata-se de um power metal progressivo dotado do maior requinte possível. Demonstrando toda a sua criatividade e proficiência, num álbum com quase uma hora de duração, os Whispers não cessam de nos surpreender com as suas composições experimentais, mas excelentemente delineadas. Este álbum aparece-nos como uma compilação de épicos de power metal, com notáveis influências de clássicos do mundo da música, desde Pink Floyd e Uriah Heep a Iron Maiden, principalmente evidentes na composição instrumental das canções e na sua plena acessibilidade sonora. Não se trata de um metal particularmente focado no peso ou na velocidade, mas antes, na exploração de diferentes sonoridades, ao longo das mesmas faixas. De modo que nunca sabemos o que nos espera, quando estamos diante delas.

Por entre as virtuosas secções instrumentais, em que as guitarras melódicas, o baixo rítmico e a bateria sincopada fazem questão de brilhar, sem nunca se sobreporem uns aos outros, denotam-se os sons sinfónicos do teclado, que acompanham a música constantemente, assim como alguns toques mais ocasionais, que fazem lembrar um piano tradicional. Conforme acontece em Do You Believe?, Coming Home ou Us for Fools (To Iran). Simultaneamente, faz-se ressoar o excelente vocal de Herbie Langhans (Seventh Avenue, Firewind) em todas as faixas, à exceção de Coming Home, onde o guitarrista, Amirali Nourbakhsh, assume os vocais.

Além de Amirali ter uma belíssima voz, perfeitamente condizente com a música, ele é também o cabecilha da banda. Tendo crescido numa época de considerável tumulto político e social no seu país de origem, com o advento da Revolução de 1979, Amirali apropria este evento histórico como fonte de inspiração para este álbum. As letras das diversas faixas manifestam-se, sobretudo, como uma forma de denunciar a violência e o terror injustificados, que pairaram sobre o povo iraniano, da mesma maneira que se transmite uma solene mensagem de amor à pátria, de nostalgia por um passado feliz, e uma de esperança, para um futuro melhor. 

Amirali também parece refletir como que uma composição autobiográfica, em diversas referências a uma juventude próspera e inocente, mas subitamente conturbada por motivos de força maior, que o forçaram a um amadurecimento precoce, mas imprescindível, à conta dos eventos do momento, e irreversível, por conta da natureza da vida humana.

Vejamos, por exemplo, as letras em Coming Home:

"What am I heading for when I know there’ll be nothing for me to see? 

I hope to see the flashing lights of a city that will never fight again. 

Gonna open that door. Gonna step on that floor. Gonna play that grand piano. 

Am I gonna see it again, or is it gonna stay in the past. 

All that happiness that I once had in my life, seems to be gone. 

What am I heading for, when I don’t even know why I am heading for a land that remains my home. In spite of all its evil trends that I know once will surely end, it’s my home, my home"


Ou em Suicide in B Minor:

"There once was a boy, who lived for the stars, asking everyone, what’s on planet Mars? 

Took his goat to the hills and he would daydream. 

Coming back one day he heard his family scream. 

Now the man’s not a boy anymore since innocence died. 

Apathy’s not his life anymore. The word is suicide"

 

O que deixa esta interpretação lírica ainda mais sublime é a forma em como tanto Herbie como Amirali a assumem. Mesmo não tendo sido o compositor e letrista dessas cantigas, Herbie interpreta e encarna aquelas palavras como se fossem suas. O seu incomparável carisma musical fá-las ressoar com mais imponência, como se se tratasse do protagonista da história que as letras nos contam. Já Amirali, detentor de um vocal mais melodioso, canta-nos Coming Home como quem recita um poema, numa narração cantarolada, que nos traz, em primeira mão, um sentimento musicado pela voz da experiência, do que a cantiga nos descreve.

Numa nota conclusiva, não poderíamos deixar passar o nosso grande gosto em cruzarmo-nos com este excelente lançamento. Sem dúvida, uma das melhores descobertas que o blogue já nos proporcionou.


Ficha técnica

Data de lançamento: 26 de junho de 2014

Editora discográfica: Sixtysix Records

Faixas:

-Suicide in B Minor (8:38)

-Nightmare Within a Dream (10:34)

-Project Sinister (7:32)

-Do You Believe? (6:02)

-Coming Home (6:09)

-Us for Fools (To Iran) (8:52)

Cask of Amontillado (7:26)


Créditos:

Amirali Nourbakhsh (guitarrista, vocalista, compositor, produção e arranjos sonoros [em Suicide in B Minor])

Herbie Langhans (vocalista)

Jalal Gholami (baixista)

Hadi Kiani (teclista, produção, gravação, mixagem, masterização e arranjos sonoros [em Suicide in B Minor])

Arash Moghaddam (baterista)

Dara Darai (baixista, em Coming Home e Cask of Amontillado)

Kasra Saboktakin (baixista, em Project Sinister)

Abolkhanjeh Fatmeshekanjeh (baterista, em Suicide in B Minor, Do you Believe? e Us for Fools (To Iran))

Mohsen Yousefi (teclista e arranjos sonoros em Suicide in B Minor)

Arash Eslami (daf)

Kami Baghai (tar)

Mehdi Moayedifar (ilustração da capa)

Barmak Dizaji (fotografia)

Saman Pourzanjani (arte adicional)


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