Apesar de recente, e, definitivamente, de ser o lançamento mais novo a ser comentado por nós, aqui, no contexto das nossas críticas de trabalhos de bandas em redor do mundo, o álbum de estreia dos Malignea é já uma obra histórica. Trata-se de um ilustre e fenomenal álbum de metal gótico/sinfónico, belamente adornado com as mais cativantes e tétricas melodias e iluminado pela maravilhosa voz da vocalista Isabel Cristina, num registo lírico cantado no nosso português. É uma surpresa e um enorme agrado ouvir as bandas a cantarem na sua língua nativa, ainda para mais, quando se trata de um idioma que nos é tão familiar e caseiro que torna toda a experiência auditiva ainda mais abastada e marcante para nós.
A competência estelar destes músicos é plenamente notável, do início ao fim deste álbum; estamos também a falar de músicos anteriormente ou atualmente envolvidos em outros dignos nomes do metal nacional, como Dogma, Insaniae e My Enchantment. E aqui, neste álbum de estreia, os cinco elementos da banda vêm a materializar, numa nova composição musical, a totalidade dos seus exímios génios criativos. Num disco em que todas as faixas (à exceção da primeira, introdutória) possuem acima de 7 minutos de duração, os Malignea demonstram-nos o quão aparentemente inesgotável é esta sua criatividade coletiva, sem nunca deixar cair a magnífica e opulenta qualidade que caracteriza o seu trabalho.
A instrumentação é límpida, sempre presente e adensada pelas orquestrações que acentuam a ambiência sonora da combinação harmónica das guitarras melódicas, do baixo pulsante e da bateria intrincada. Verificam-se, também, momentos de transição instrumental, para novas secções musicais, mas sempre numa lógica de continuidade sonora, assegurando-se uma progressão fluída e bastante agradável. Como se, dentro da mesma faixa, se fossem explorando novos universos sonoros que enriquecem, de forma deleitosa, o todo do conjunto instrumental, gerando, assim, uma bela eufonia que nos embala continuadamente, que não parece ter fim.
A atmosfera melodramática proporcionada pelas orquestrações surge como pano de fundo para a dramatização sonora protagonizada por Isabel. Como já referimos brevemente logo ao início, mas também como é nunca demais elogiar aquilo que melhor deve ser estimado, ocorre-nos reforçar que o seu desempenho vocal é absolutamente deslumbrante. Passando de registos vocais mais suaves e melancólicos, para outros, de maior abrasividade e ainda vocais mais numa onda quase operática, Isabel demonstra, com todo o esplendor, a sua inestimável versatilidade vocal. E é também pela sua magnífica e encantadora voz que se fazem representar alguns elementos sonoros e artísticos caracteristicamente portugueses.
Primeiramente, pela omnipresência de sílabas métricas, ao longo das canções, um aspeto elementar da poesia portuguesa. É uma autêntica lufada de ar fresco, não só ter um excelente metal sinfónico cantado em português, mas também tê-lo adornado com um dos mais ilustres elementos da nossa cultura literária, num exercício de revitalização extremamente bem concebido. E, além disso, de destacar o vasto vocabulário que constitui as histórias líricas que Isabel nos canta. É algo que nos fascina, ao evidenciar o quão rica, canora e apaixonante é a língua portuguesa, o que, enquanto bons patriotas que somos, nos alenta.
Destarte, os Malignea deixam-nos plenamente deslumbrados pela qualidade inigualável e absolutamente sublime do seu álbum. Definitivamente, uma das melhores, senão mesmo a melhor das descobertas que esta jornada internacionalista no blogue alguma vez nos proporcionou. Para os Malignea, as nossas mais solenes e genuínas congratulações pelo primoroso trabalho que criaram.
Ficha técnica
Data de lançamento: 28 de fevereiro de 2023
Editora discográfica: Ethereal Sound Works
Faixas:
-Lasciate ogni speranza (2:10)
-Maligna (7:24)
-Morte Vermelha (8:22)
-Universo 25 (8:36)
-Farol dos Malditos (8:11)
-Sanguis Lunae (9:32)
-Cirenaica (7:42)
Créditos:
Isabel Cristina (vocalista)
Luís Possante (guitarrista)
João Pedro Ribeiro (guitarrista)
Miguel Sampaio (baixista)
Luís Abreu (baterista)
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