domingo, 30 de abril de 2023

Crítica #14 - In Darkness I Dwell - In Darkness I Dwell

Apesar da sua aparentemente curta existência, a banda belga In Darkness I Dwell deixou-nos um legado musical bastante singular e interessante. É, definitivamente, algo que poderíamos considerar como uma das mais fiéis e acuradas representações sonoras do metal gótico, pois comporta todos os elementos que nos fariam orientar o nosso pensamento musical nessa onda: uma voz feminina soturna, coros vocais que fazem um excelente contraste entre o elemento masculino e feminino (sem precisar de recorrer desnecessariamente ao típico gutural intrusivo), uma instrumentação cunctatória e melancólica e elementos sinfónicos em proeminência. Não se trata, portanto, de uma obra com grandes e ambiciosas composições. É um trabalho bastante simples e que consegue ser perfeitamente cativante à sua maneira.

Não sabemos se terá sido deliberado ou não, mas sente-se que a produção sonora dos instrumentos soa relativamente distante e até quase submersa. E ainda que, em alguns casos, isto possa ser um aspeto frustrante, aqui, assume o efeito inverso - é, precisamente, um dos elementos mais característicos da música dos IDID e que mais abonam em seu favor. Assim, a instrumentação assume um cariz quase hipnótico e de pano de fundo para relevar a voz feminina.

Esta, por sua vez, pela sua natureza suave, mas cerrada, e até mesmo triste, eleva a qualidade da música exponencialmente. As palavras proferidas são facilmente percetíveis e adensadas pela tonalidade e sentimento genuíno do cantar, como se de uma vocalização de angústia, de confusão, insegurança, de medo ou perdão se tratasse. Ocasionalmente, este cantar é reforçado com alguns coros vocais.

Um aspeto bastante interessante que se nota no decorrer deste lançamento é a arregimentação das músicas, como se de uma peça de teatro se tratasse. A instrumentação, como cenário; os vocais, como a narração e as personagens; e os elementos sinfónicos, que realmente até se assemelham a algo presente numa representação de uma cena medieval ou teatral, como uma transição entre cenas. É frequente encontrarmos aqui certos momentos em que a música para por um instante, para depois recomeçar de seguida. É como se contasse uma história que, pelas letras que a compõem, parece ser algo bem individual, da qual se faz uma exteriorização por via da música.

Assim, neste breve lançamento, os IDID fazem evidenciar um metal gótico verdadeiramente tétrico e único. É uma excelente peça artística que, apesar da sua maior ou menor uniformização sonora, é também versátil e gustativa o suficiente para ser do agrado dos mais diversos fãs do género.


Ficha técnica

Data de lançamento: 16 de junho de 2006

Editora: Independente

Faixas:

-Dance with the Fool (4:39)

-Anything, Anymore, Anyway (4:10)

-Tranquilize (3:26)

-In Darkness I Dwell (4:00)

-Fade to Grey (regravação dos Visage) (2:50)

 

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