O terceiro álbum dos Opera IX junta o melhor dos dois mundos: a proficiência musical magnífica no seu mais elevado potencial, em conjunto com toda uma estética musical tenebrosa e obscura. No decorrer de um álbum com pouco menos que uma hora de duração, a veterana banda italiana arrocha-nos numa verdadeira marcha em rumo às mais negras profundezas infernais musicalmente concebíveis.
Sendo que todas as faixas (à exceção da última, que é uma regravação dos Bauhaus) são intituladas, numericamente, como "atos", gera-se uma ideia de teatralidade, na conceção do álbum. Elas podem, daí, ser interpretadas como capítulos de um grimório, ou como um espetáculo de horrores que adquire forma sonora, de maneira que essa arrumação das faixas, só por si, transmite já uma sensação iminente de suspense. É uma forma bastante curiosa de ilustrar o álbum, evidenciando não só a sua total incorporação numa mesma obra sensorialmente obscura, mas também a irrevogável dedicação e perfecionismo artístico e profissional dos artistas envolvidos na sua conceção.
Neste álbum, os Opera IX munem-se de uma épica fusão de metal gótico com elementos bem proeminentes de black metal melódico. Constituem, assim, uma musicalidade agressiva, intensa e mística, pelo que a preponderância dos elementos sinfónicos e das entoações vocais variadas, executadas por Cadaveria, desde vocais gritados rasgados a um cantar mais áspero, mas acessível, contribuem para adensar a atmosfera tétrica e funesta que se faz sobressair, com toda a sua exuberância. nas diversas faixas. A repetição de certas verbalizações ao longo do álbum, principalmente em referência a Satanás e àquilo que parece ser língua enoquiana, confere uma certa particularidade concetual ao disco, como se se tratasse de um ritual.
É, no seu todo, uma experiência auditiva imersiva, caracterizada pela sua multidimensionalidade sonora, por via de uma constante introdução e revitalização de elementos musicais diversos, sem nunca se deixar levar pelo exagero e estando sempre tudo perfeitamente delineado. Toda esta panóplia de acrescentos musicais, desde as já referidas refinadas sinfonias vampirescas, a potentes acordes de guitarra, às diversas encantações vocais de Cadaveria e muito mais, contribuem para exprimir uma ambiência macabra e diabólica como nunca antes visto (ou escutado?).
Perante isto, resta-nos recomendar a escuta desta grandiosa obra aos nossos seguidores que apreciam um metal gótico mais pesado, com largas influências de black metal - e mesmo para quem não costuma apreciar esse tipo de música, de certo que uma espreitadela também não vos fará mal nenhum. Garantidamente, não se arrependerão.
Ficha técnica
Data de lançamento: 5 de maio de 2000
Editora discográfica: Avantgarde Music
Faixas:
-Act I: The First Seal (9:39)
-Act II: Beyond the Black Diamond Gates (7:14)
-Act III: Carnal Delight in the Vortex of Evil (6:13)
-Act IV: Congressus Cum Daemone (10:24)
-Act V: The Magic Temple (4:16)
-Act VI: The Sixth Seal (7:50)
-Bela Lugosi's Dead (regravação dos Bauhaus) (5:28)
Créditos:
Raffaella Rivarolo "Cadaveria" (vocalista)
Ossian D'Ambrosio (guitarrista)
Vlad (baixista)
Lunaris (teclista)
Alberto Gaggiotti "Flegias" (baterista)
Per-Olof Saether (produtor e engenharia de som)
Lars Lindén (assistente de engenharia de som)
Magnus Söderman (assistente de engenharia de som)
Alberto Maria Gotti (arte da capa e fotografia)
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